I won't ever be your cornerstone

Cá estou eu a divagar. Rodeada de pessoas que me observam e avaliam a cada movimento. Sabem lá elas que me escapo daqui sempre que posso. Que, muitas vezes, mesmo enquanto falam para mim, respondo em modo automático. Como agora. Vejo os lábios a mexer, mas não ouço o que me dizem. Estou noutro sítio. Com a tua camisa vestida e o cabelo apanhado. O comando da TV substitui o microfone. E a plateia está do lado de lá do vidro inundado de gotas. Tu observas o meu espectáculo encostado à parede. Meio escondido, meio divertido. Ainda não dei por ti. Aumento o volume dos Kings of Leon para o máximo, o que é sempre demasiado alto na tua opinião. Salto para cima do sofá e grito o refrão da Pyro. Imagino o teu olhar de reprovação, se ali estivesses. Sei lá eu, que agora, enquanto vês o meu corpo dançar ao ritmo da bateria, naqueles momentos só meus, em que fujo da realidade e exorcizo a tensão da pele, dos músculos e dos ossos, sorris displicentemente. Estás a adorar o espectáculo. Segues todos os gestos, a cabeça que cai para trás, a parte em que mordo o lábio, os movimentos relaxados, sem constrangimentos, limitações, vergonha. Sentes-te mais atraído por mim que nunca. Porque sou um bicho esquisito na tua vida. Uma espécie rara. Sobre a qual podes ler e estudar. Mas que até hoje só viste em cativeiro. Conheces tão pouco de mim. Ou quase nada. Vá, agora já reparei em ti pelo canto do olho. Estou à espera do teu hum-hum repreensivo. Que não vem. Em vez disso sinto os teus braços a rodearem-me o tronco. E o que me chamas. A palavra que há bem pouco tempo me irritava solenemente, agora, faz todo o sentido.

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O meu nome é Joana. Sou insatisfeita por natureza, quero sempre mais e sempre melhor. Sou indecisa, mas quando me decido vou até ao fim do mundo. O meu sonho é fotografar o mundo e as coisas bonitas que nos rodeiam. O meu grande sonho é não ter limites para o fazer.