Um ano e um mês,

No meio do trânsito. Do meu lado esquerdo uma senhora fixava o horizonte e perdia-se nos seus pensamentos. À minha frente um casal jovem de namorados discutia teatralmente. E eu reconheci a música no rádio, aumentei o volume quase até ao máximo, exactamente como sei que detestas, e comecei a sorrir. Primeiro a medo, depois tive mesmo vontade de rir. E ri, ri, ri, ri, com gosto. Ri até ficar com os olhos a brilhar. Cheios de ti. Porque podes baixar o volume do rádio as vezes que quiseres, podes discutir treatralmente comigo, posso até olhar para o horizonte como a senhora que está no carro ao lado do meu, posso ter vontade de mandar toda a gente à merda por detestar o que faço, posso não ser capaz de me levantar da cama todas as manhãs à hora que seria suposto, podes zangar-te comigo por fumar cigarro atrás de cigarro, mas nunca vamos conseguir diminuir o que sinto por ti. Minimizar-te, se algum dia for preciso, será a missão impossível da minha vida.
(Coldplay - Charlie Brown)

Em três dias,



cheguei aos 47,5.

Do I have to save your soul?

Há muito tempo atrás reconheci que cada um de nós tem, na liberdade, a sua própria prisão. Definir onde começa o espaço de um e acaba o do outro é praticamente impossível. Definir a nossa própria felicidade é difícil. Fazer feliz quem amamos é destruidor. Destruímos o orgulho, a confiança, os valores e perdemo-nos dentro de nós para encontrar o caminho do outro. A dúvida é avassaladora. Acaba com tudo o que construímos e deita por terra todo o amor que existe. Tenhos as mãos atadas atrás das costas. Se tentar correr para ti vou tropeçar e magoar-me a sério. Se ficar aqui parada vou perder a vida que imaginei contigo. O meu coração vai parar em qualquer dos casos. Ninguém morre de amor. Mas morre-se de dúvida, de incerteza, de desconfiança, morre-se de tanto querer amar o que não é certo.

Com algum atraso

Há praticamente um ano abria-te a porta do meu quarto de hotel perdido no meio do frio da Primavera e a do meu coração, nos seus 40 graus de verão abrasador. Quis o destino que entrasses em mim de uma forma assombrosa e avassaladora. Levaste-me o medo, a tristeza e a prisão de uma terra de ninguém onde apenas as vozes ao telemóvel me lembravam que estava tão longe de casa. Quis dizer-te que era tua, desde que desci as escadas do hotel e enfiei as mãos nas luvas de lã para te abraçar. Que cantarolei as músicas que são dos dois durante todo o caminho, para afastar o frio e as expectativas que me consumiam a cabeça e não me deixavam dar um passo de cada vez. Praticamente corri ao teu encontro, naquele passo saltitante de criança que agora me conheces tão bem. As expectativas, essas, ficaram mais uma vez guardadas dentro do roupeiro enquanto nos escondíamos desta Europa sem sentido debaixo do edredão. Conseguiste superá-las. Não na minha pele, mas no meu coração. Que hoje fala com o teu sem parar, numa língua só nossa, num mundo que é interdito a toda a gente, excepto a nós os dois.

Acerca de mim

A minha foto
O meu nome é Joana. Sou insatisfeita por natureza, quero sempre mais e sempre melhor. Sou indecisa, mas quando me decido vou até ao fim do mundo. O meu sonho é fotografar o mundo e as coisas bonitas que nos rodeiam. O meu grande sonho é não ter limites para o fazer.