Would you kill to save a life?

Entrei no banho, a tremer da cabeça aos pés, lavei metodicamente o cabelo, o corpo, embrulhei-me na toalha, passei o creme hidratante nas pernas, barriga, mãos e cara, penteei-me, roupa interior, enfiei as calças e quando ia apertar o cinto no último furo percebi que as calças me caíam. Fiquei a olhar, petrificada, para aquele furo já feito depois da compra do cinto, e que já não me segura as calças. Foi neste exacto momento que me veio à cabeça uma das muitas cenas do filme Into the wild, em que ele vai apertando, apertando e fazendo furos à medida que emagrece. Virei-me de costas para o espelho, tenho os ossos da coluna demasiado salientes na pele, cada vez que respiro vejo as costelas fazerem fricção. Tenho olheiras profundas e negras e as unhas comidas até metade. Estou a consumir-me em silêncio. Sem sintomas, sem sinais. É como se me comesse por dentro. Sem doer, no silêncio da noite. Enquanto a mente dá descanso aos músculos, mas o inconsciente vem ao de cima. É agora, a rampa está mesmo à minha frente. Escorregadia, íngreme. Lá em baixo está o muro. Duro e rochoso. Vou ter de saltar. Não tenho hipótese. Por mais que tente atenuar o embate, sei que me vou partir aos bocados.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Acerca de mim

A minha foto
O meu nome é Joana. Sou insatisfeita por natureza, quero sempre mais e sempre melhor. Sou indecisa, mas quando me decido vou até ao fim do mundo. O meu sonho é fotografar o mundo e as coisas bonitas que nos rodeiam. O meu grande sonho é não ter limites para o fazer.