"Para não copiar exactamente a expressão “rasca” utilizada por Vicente Jorge Silva, jornalista e ex-deputado, expressão usada há alguns anos num texto em que criticava a geração mais jovem, inclino-me para a expressão “roskof”, bem conhecida da gíria verbal portuguesa.
George Roskopt, um alemão naturalizado suíço inventou há muitos, muitos anos um relógio prático e barato, que ficou com o seu nome, e que foi uma espécie de relógio do povo. Segundo consta, tratava-se de um relógio barato, barulhento e que não era muito “pontual”, ora se adiantando, ora se atrasando. Foi até, na altura, objecto de um certo escárnio pelos selectos fabricantes de relógios da Suiça.
O Roskopt foi utilizado pelas classes operárias e pelos camponeses.
No nosso Alentejo, há cerca de 150 anos era o relógio dos trabalhadores do campo e nos Estados Unidos foi o relógio dos operários tayloristas e fordistas (que com o Roskopt controlavam o seu tempo de trabalho até então só mensurável pelos patrões).
Consta que António de Oliveira Salazar também preferiu este relógio simples, apesar de poder ter acesso a outras marcas bem mais conceituadas.
Ora o que é que é que um relógio tem a ver com uma geração?
À partida, nada e tudo.
É que a actual geração mais jovem, já não exactamente coincidente com a do Vicente Jorge Silva, o que configura uma evolução (negativa) na continuidade; aquela que se encontra agora
à beira de entrar no mercado de trabalho não tem minimamente noção do tempo e da importância do mesmo.
Esta geração é “roskof”, não só porque não têm um Roskopt, mas porque têm, e em excesso, computadores portáteis, “Play stations”, IPODs e outras tantas ferramentas tecnológicas que a retiram da realidade e a leva a viver num mundo virtual, perfeitamente imaginário, onde o tempo não conta. OS jovens dessa geração embrenham-se nos jogos das consolas, nas conversas com pessoas que não conhecem (via “Messenger” e outros canais electrónicos) e na visualização de filmes e todo o tipo de imagens diversas. O mundo deles é visto através de janelas virtuais e não através da vida vivida, feita de experiências e de contactos directos, frontais, face a face, com pessoas.
Os “amigos” desta geração de jovens podem estar a milhares de quilómetros, mas estes jovens não sabem o nome do vizinho que mora na casa ao lado ou no apartamento por baixo. Podem até cruzar-se no elevador, mas mais nada.
Esta geração desenraizada não tem metas, não tem objectivos precisos e definidos; esta geração não tem princípios ou valores solidamente arreigados que defenda até à exaustão.
Os operários norte-americanos utilizavam- vamos simplificar- o Roskopt para defenderem os seus interesses enquanto trabalhadores; eles não queriam ser explorados pelo patrão em mais tempo no trabalho.
O que fazem estes nossos jovens de hoje, os que estão à beira de entrar no mercado de trabalho ou já a entrar no mesmo?
Depois de um longo percurso académico e formativo alguns já com mestrados e tudo, sujeitam-se a trabalhar por 500 euros brutos por mês (sim, há jovens com formação superior a receber este valor), a recibo verde ou em regime de trabalho temporário, e a trabalharem 14 e mais horas por dia, sem pagamento de horas extraordinárias, e não refilam. Não reivindicam, não batem o pé, quase agradecem de mãos postas por alguém (às vezes multinacionais riquíssimas com lucros exorbitantes) os deixar adquirir experiência, quase pagando para trabalhar, porque se descontarmos aos 500 euros o dinheiro dos transportes e a alimentação, aí não sobra muito.
Já os trabalhadores do campo alentejanos, aqueles, provavelmente não muitos, que teriam o Roskopt, não conseguiam deixar de ser explorados de sol a sol, comendo pelo meio-dia uma côdea de pão e uma mão cheia de azeitonas. Os senhores feudais do Alentejo de há 150 anos não tinham contemplações na exploração de mão-de-obra e a Catarina Eufémia só surgiria muitos anos mais tarde.
Hoje a geração jovem é tão passiva como os camponeses alentejanos de então, não tem proactividade, não procura lutar pelos seus interesses e é facilmente dominada pelos detentores do capital e dos meios produtivos. Se os alentejanos se contentavam com o pão e as azeitonas, os jovens de hoje contentam-se com os 500 euros.
É inacreditável ver uma geração que vai sofrer, provavelmente como nenhuma desde há muitos anos, os efeitos de uma conjuntura – que mais do que conjuntura vai ser um movimento estrutural de modificação, a meu ver para muito pior, de toda a sociedade - é, inacreditável que essa geração não se levante em peso e não coloque o dedo em riste aos políticos, aos governantes e aos restantes detentores do poder de decisão sobre matérias tão importantes.
Por muito menos do que o que está a ocorrer actualmente no mundo, surgiu o Maio de 68. Esta geração não terá consciência de que sem ela, esta gente que domina o país e o planeta não tem como manter os seus gritantes privilégios?
Não terá consciência de que com a sua simples mas massiva recusa em aceitar condições de trabalho e de vida pouco dignas como as que lhe são agora apresentadas poderia influenciar a produção de mudanças significativas?
Este jovens de hoje não conseguem ver que o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior e que os pobres de há 30/40 anos eram os analfabetos e os que tinham apenas a instrução primária e que os pobres de hoje já têm mestrados e doutoramentos?
O que andam estes jovens a fazer, a viver uma vida fingida, um hipotético sonho para não enfrentarem a realidade?
Que cobardia é esta? Estarão eles à espera de que os que foram jovens nos anos 60 e 70 do século passado ainda rebusquem as suas já bastante gastas energias para lutarem por eles? Pobre geração esta!...Muito barata e acessível, tal como o Roskopt.
Esta Geração Roskof não comenta os aumentos dos combustíveis, não se importa com o aumento dos bens alimentares (pois se são os papás que continuam a pagar a factura,mesmo quando já têm mais de 30 anos), não luta por um melhor ambiente, não antevê que num futuro muito em breve a própria água custará os olhos da cara?
O que fazem os jovens de hoje?
Esta Geração Roskopt passeia-se nas escolas e universidades, com brincos, “piercings” e tatuagens e com os umbigos à mostra, dormitando solenemente nas salas de aula ou dedilhando o telemóvel, sem pôr em causa o que os doutos, teóricos e pouco motivadores professores lhes debita.
E ainda escrevem, como há uns tempos li num jornal universitário, que não são uma geração “rasca”, mas sim uma geração “à rasca”.
E estão mesmo “à rasca” e continuarão “à rasca” enquanto forem “roskofs”, isto é, acessíveis, baratos, económicos e pouco exigentes em termos de qualidade. Tal como o Roskopt. "
George Roskopt, um alemão naturalizado suíço inventou há muitos, muitos anos um relógio prático e barato, que ficou com o seu nome, e que foi uma espécie de relógio do povo. Segundo consta, tratava-se de um relógio barato, barulhento e que não era muito “pontual”, ora se adiantando, ora se atrasando. Foi até, na altura, objecto de um certo escárnio pelos selectos fabricantes de relógios da Suiça.
O Roskopt foi utilizado pelas classes operárias e pelos camponeses.
No nosso Alentejo, há cerca de 150 anos era o relógio dos trabalhadores do campo e nos Estados Unidos foi o relógio dos operários tayloristas e fordistas (que com o Roskopt controlavam o seu tempo de trabalho até então só mensurável pelos patrões).
Consta que António de Oliveira Salazar também preferiu este relógio simples, apesar de poder ter acesso a outras marcas bem mais conceituadas.
Ora o que é que é que um relógio tem a ver com uma geração?
À partida, nada e tudo.
É que a actual geração mais jovem, já não exactamente coincidente com a do Vicente Jorge Silva, o que configura uma evolução (negativa) na continuidade; aquela que se encontra agora
à beira de entrar no mercado de trabalho não tem minimamente noção do tempo e da importância do mesmo.
Esta geração é “roskof”, não só porque não têm um Roskopt, mas porque têm, e em excesso, computadores portáteis, “Play stations”, IPODs e outras tantas ferramentas tecnológicas que a retiram da realidade e a leva a viver num mundo virtual, perfeitamente imaginário, onde o tempo não conta. OS jovens dessa geração embrenham-se nos jogos das consolas, nas conversas com pessoas que não conhecem (via “Messenger” e outros canais electrónicos) e na visualização de filmes e todo o tipo de imagens diversas. O mundo deles é visto através de janelas virtuais e não através da vida vivida, feita de experiências e de contactos directos, frontais, face a face, com pessoas.
Os “amigos” desta geração de jovens podem estar a milhares de quilómetros, mas estes jovens não sabem o nome do vizinho que mora na casa ao lado ou no apartamento por baixo. Podem até cruzar-se no elevador, mas mais nada.
Esta geração desenraizada não tem metas, não tem objectivos precisos e definidos; esta geração não tem princípios ou valores solidamente arreigados que defenda até à exaustão.
Os operários norte-americanos utilizavam- vamos simplificar- o Roskopt para defenderem os seus interesses enquanto trabalhadores; eles não queriam ser explorados pelo patrão em mais tempo no trabalho.
O que fazem estes nossos jovens de hoje, os que estão à beira de entrar no mercado de trabalho ou já a entrar no mesmo?
Depois de um longo percurso académico e formativo alguns já com mestrados e tudo, sujeitam-se a trabalhar por 500 euros brutos por mês (sim, há jovens com formação superior a receber este valor), a recibo verde ou em regime de trabalho temporário, e a trabalharem 14 e mais horas por dia, sem pagamento de horas extraordinárias, e não refilam. Não reivindicam, não batem o pé, quase agradecem de mãos postas por alguém (às vezes multinacionais riquíssimas com lucros exorbitantes) os deixar adquirir experiência, quase pagando para trabalhar, porque se descontarmos aos 500 euros o dinheiro dos transportes e a alimentação, aí não sobra muito.
Já os trabalhadores do campo alentejanos, aqueles, provavelmente não muitos, que teriam o Roskopt, não conseguiam deixar de ser explorados de sol a sol, comendo pelo meio-dia uma côdea de pão e uma mão cheia de azeitonas. Os senhores feudais do Alentejo de há 150 anos não tinham contemplações na exploração de mão-de-obra e a Catarina Eufémia só surgiria muitos anos mais tarde.
Hoje a geração jovem é tão passiva como os camponeses alentejanos de então, não tem proactividade, não procura lutar pelos seus interesses e é facilmente dominada pelos detentores do capital e dos meios produtivos. Se os alentejanos se contentavam com o pão e as azeitonas, os jovens de hoje contentam-se com os 500 euros.
É inacreditável ver uma geração que vai sofrer, provavelmente como nenhuma desde há muitos anos, os efeitos de uma conjuntura – que mais do que conjuntura vai ser um movimento estrutural de modificação, a meu ver para muito pior, de toda a sociedade - é, inacreditável que essa geração não se levante em peso e não coloque o dedo em riste aos políticos, aos governantes e aos restantes detentores do poder de decisão sobre matérias tão importantes.
Por muito menos do que o que está a ocorrer actualmente no mundo, surgiu o Maio de 68. Esta geração não terá consciência de que sem ela, esta gente que domina o país e o planeta não tem como manter os seus gritantes privilégios?
Não terá consciência de que com a sua simples mas massiva recusa em aceitar condições de trabalho e de vida pouco dignas como as que lhe são agora apresentadas poderia influenciar a produção de mudanças significativas?
Este jovens de hoje não conseguem ver que o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior e que os pobres de há 30/40 anos eram os analfabetos e os que tinham apenas a instrução primária e que os pobres de hoje já têm mestrados e doutoramentos?
O que andam estes jovens a fazer, a viver uma vida fingida, um hipotético sonho para não enfrentarem a realidade?
Que cobardia é esta? Estarão eles à espera de que os que foram jovens nos anos 60 e 70 do século passado ainda rebusquem as suas já bastante gastas energias para lutarem por eles? Pobre geração esta!...Muito barata e acessível, tal como o Roskopt.
Esta Geração Roskof não comenta os aumentos dos combustíveis, não se importa com o aumento dos bens alimentares (pois se são os papás que continuam a pagar a factura,mesmo quando já têm mais de 30 anos), não luta por um melhor ambiente, não antevê que num futuro muito em breve a própria água custará os olhos da cara?
O que fazem os jovens de hoje?
Esta Geração Roskopt passeia-se nas escolas e universidades, com brincos, “piercings” e tatuagens e com os umbigos à mostra, dormitando solenemente nas salas de aula ou dedilhando o telemóvel, sem pôr em causa o que os doutos, teóricos e pouco motivadores professores lhes debita.
E ainda escrevem, como há uns tempos li num jornal universitário, que não são uma geração “rasca”, mas sim uma geração “à rasca”.
E estão mesmo “à rasca” e continuarão “à rasca” enquanto forem “roskofs”, isto é, acessíveis, baratos, económicos e pouco exigentes em termos de qualidade. Tal como o Roskopt. "
de Jorge Coelho Martins
Para todos os que me pedem calma quando tento defender os meus interessas mais afincadamente e para todos os que pertencem à Geração Roskof, que também é minha, e aceitam trabalhar nas péssimas condições que oferecem. Porque são vocês que permitem o estado em que as coisas estão!!!
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