Estou numa formação paga a peso de ouro. E ainda não ouvi uma palavra. Este senhor, que fala sem parar sobre coisas importantes, gráficos, valores de dose, algoritmos e software percebe mesmo disto. De vez em quando dirijo-lhe um sorriso, embora ele não precise de qualquer alento para continuar. Não sei do que ele está a falar. Nada disto me faz qualquer sentido. Estou a anos-luz de distância. Sonho com um mundo onde não tenho de fingir ser quem não sou. Faço filmes, com direito a protagonistas, vilões, duplos e finais felizes. Até têm direito a banda sonora. Os cenários vão mudando, as luzes, camâra, acção funcionam na perfeição. E eu continuo a sorrir para ele e ele para mim. Não me vou lembrar do som da sua voz assim que sair porta fora. Porque não chega até mim. Estou presa neste corpo, nesta sala, nesta personagem. Estou presa nas circunstâncias que me trouxeram até aqui. A janela, ao meu lado, deixa soprar o vento no meu cabelo e obriga-me a perceber, no meio de toda esta parafernália de tecnologia de ponta, que cometi o maior erro da minha vida. Não fui talhada para isto, não está na minha natureza pertencer a este mundo. Os números e gráficos não me deixam ser quem sou. O que estou aqui a fazer? Podia estar a inventar argumentos, a esfolar o corpo a dançar ou a decorar as minhas falas para a próxima cena. Devia sentir o que faço. Não tornar-me numa casca sem conteúdo. Ele sorri para mim, como se o estivesse a seguir atentamente e lembro-me que o objectivo de viver é tornarmo-nos melhores. E como conseguimos fazê-lo? Aprendemos com os nosso erros. Consigo admitir que errei. Redondamente. Agora vem a parte mais difícil. Terei coragem para corrigi-lo?
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Acerca de mim
- Joana
- O meu nome é Joana. Sou insatisfeita por natureza, quero sempre mais e sempre melhor. Sou indecisa, mas quando me decido vou até ao fim do mundo. O meu sonho é fotografar o mundo e as coisas bonitas que nos rodeiam. O meu grande sonho é não ter limites para o fazer.
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