Fazer tudo bem. É o grande desafio dos nossos dias. Comer de forma saudável, ser profissional, manter a casa limpa e arrumada, dar atenção aos amigos, beber dois litros de água por dia, amar incondicionalmente quem partilha a vida connosco, conseguir andar em cima daqueles saltos de dois metros que o trabalho nos impõe, surpreender o namorado com um jantar romântico, ingerir menos hidratos de carbono, dar conselhos a amigas que sentem que tudo está perdido, respeitar os sinais de STOP no trânsito, saber tudo e mais alguma coisa sobre os 50 aparelhos de radiologia e responder a todas as questões confiantemente, vestir lingerie sexy, aspirar o carro todos os meses, tirar a maquilhagem antes de ir dormir, deixar de fumar, vá que hoje é o último e tantas outras coisas. Mas depois esquecemo-nos do mais importante. De parar. De perguntar o que queremos no espelho. De chorar o cansaço, dormir para afastar o stress, estarmos sozinhos. De tirar do bolso uma ilha deserta instântanea para sentir o sol a bater-me na pele. Para sentir o coração a bater no peito. E sentir que não, que ainda estou aqui, ainda tenho palavras nos dedos, músicas nos ouvidos e uma vontade enorme de mandar tudo à merda, como sempre, aliás.